22 agosto 2006

O autocarro e o sexo virtual.

Vinha desde muito, faziam já 10 minutos que vinha. Ouvia o marulhar da cidade pequena, da cidade pacata, deste aglomerado sobre o monte, desta que escorre para o vale: Viseu. Não pensava. Nada me detinha. Não era. Apenas ia.
Esperei na paragem. Ele chegou calado e quase vazio: na frente do autocarro uma bela rapariga: rara, pensei, rara nos locais limítrofes, aldeã bela: imaginei-a sobre os montes, de calção curto a estender roupa, ou a virar leira à cavadela, ou a estropiar milhos jovens prontos a ser colhidos, prontos a ser tragados. Imaginei-a. Deixei o pensamento seguir, deixei a imagem alimentar-se da verdade espelhada, copiada do seu corpo encaixado naquela primeira cadeira. Procurei os trocos para pagar a viagem e pensei numa estratégia para me sentar ao seu lado. Enquanto o condutor rasgava o bilhete olhei o longo do autocarro, o fundo escuro, a irmandade vazia dos bancos intermináveis: engoli a última saliva da tarde. Segui, olhei-a mais uma vez e continuei duas filadas de assentos. Abri o jornal e continuei a ler as peripécias entre Líbano e Israel.
Mas não me interessavam as peripécias de dois países que se mutilavam: não queria saber. A volúpia, mais que o amor, torna-nos egoístas a este ponto. Queria falar com ela. Ela que se mantinha calada, quieta e imóvel... imaginei-a seminua sobre a esteira da varanda de granito, banhada em sol morno; imaginei-a caminhar num carreiro estreito entre muros médios: arrancou uma folha de videira, petiscou um cacho, humedeceu a anca num regato tímido, ecoou o tinido rebelde de uma toutinegra sedutora...
Torredeita apresentava a sua silhueta ao fundo, vi-a pela janela suja. Saí como entrei: tímido e calado.

Abdel.

20 agosto 2006

A minha preferência.

Gosto especialmente disto:

Kirkkadale said...

mas que blog mais seca...

abdel.