02 julho 2006

O silêncio deste vale.


O silêncio deste vale.




Este é um lugar inóspito e duro. Doloroso. Ásperos são os dias que correm sobre o veio do tempo. As escamas que balançam não são mais que escamas: serão nada mais porque não há brisa que as mova.


E sentes-te perdido. Algures entre o áspero duvidoso do estar e do ir. Que fazer? A brisa ainda não surge. Nada surge.


Calma... o silêncio tem a espessura de ramos verdes de oliveira e o comprimento de um latido, morte de cão vertido em sangue na ribanceira.

Mas alguém... os dias desaguam em desertos, nudez perpéctua, as escamas húmidas, gémea fotografia... ninguém.


Circundo as coisas, sempre as coisas são diferentes mas da brisa nada ouço. As ideias são mesmas em si e nada em mim se revela. Ninguém ainda.



O silêncio é uma rua fechada. Abro o diafragma do vento e expelindo todos os pinheiros vistos, os arrabaldes conhecidos, as mulheres amadas, os mosteiros visitados, as ervas e flores cheiradas, as borboletas cercadas, o sono tomado, o sexo desejado, os mergulhos tomados, expelindo todos em voo incerto, algo surge, sobre a brisa, não nela, mas com ela, o grito do eco, o outro.
Rubro como eu sobre o penedo, sozinho, tomo-te. Onde estás?

3 comentários:

todonu disse...

Cara pediculose: wireless no "pote"?!
Abdel, isto despertou memórias esbatidas pelo tempo... há muito que não via este registo pictórico/manuscrito. Sem dúvida, isto é uma reminiscência da grande e, infelizmente, já morta Fotonovela.

Abdel Sesar Im disse...

Fotonovelas ou não, quero acordar este vale ensonado... ou à tempo demais nas retretes da vida: procurem antes as janelas, ó colegas! São mais arejadas e os maus cheiros não ficas restritos, ou restringidos.
Vá, procurem as janelas e permaneçam. Olhem. Vejam. Aproveitem.
Gritem pra mim.
Vá!

Abdel.

vidalinic disse...

eheheheh!!!!!

Na casa de banho???

Hmmm... Profundo.