02 junho 2008

(Novo post, a pedido.)

Alguém em espaço restrito, algures à esquerda como quem sobe a Rua Escura vindo da Direita, comentava alguma coisa. Dizia com a verbe de um indignado, com o hálito de um contente, com a euforia de um tocado: estou farta dos pitos. Disse com alma tal que os ventos mudaram de rumo e as minis, finalmente, arrefeceram.
Hoje preparo-me para mudar o mundo. Parece incrível, eu sei. Tenho razões bastas para me incumbir do desejo. Sofro de claustrofobia heróica e quando me toca a força de mudar, mudo. E pronto: a ela que se faz tempo.
Digo: vou contar a minha noite.
(Vou tomar a primeira pessoa, para tomar o discurso mais sério. Contrariedades a que não escapo!)
Estava eu jantado e a televisão nada mais dava. A selecção erectava heróicas glorias de um tempo que ficou por heroicizar e o Agostinho, imagem mais sexy, caiu sobre a minha ideia e calcei-me. Caminhei sobre o sono. Nem os passos me tiraram a sonolência. Estranho efeito.
Agostiniado bebi um Constantino e meio com quatro pedras de gelo (do bom, água da torneira). Entretanto preguei os olhos sobre um artigo que mostrava que antigamente filtravam os vinhos com claras de ovos. Isso trouxe às senhoras de XV chatices moderadas: tiveram que inventar algo que fazer com tanta gema que ficara orfã. Nasceram os variadíssimos doces de ovos, conventualidade culinária. Aprendi, então, a relação entre uma boa zona de vinhos, com velhas vinhas, e os doces d'ovos. Onde este está, o outro merece crédito.
Olhei umas fotos de senhoras despidas, coisa boa de arregalar os espíritos alheados, de olhos no gargalo Sagrento.
Então, eu o cicerone agostiniano, tomámo-nos de caneta e procurámos resolver o puzzle infantil que o Chico Macaco propunha. O Chico Macaco é uma figura engraçada, de fato homónimo vestido, orelhas peludas largas e um sorriso matreiro que enerva os decadentes. A palavra central era de certeza Parafuso, mas não descortinámos um par de ferramentas para encaixar. Foi humurosa a entremeada hora. Tocou-se séria a certa altura mas o escárnio, esse bobo malandro, sacana que não vai embora. Tive sensações de furo no tempo. Hiatos, compreendam-me bem, esqueci de certas preocupações. Preocupações, entenda-se, de rapaz bem na vida, preocupações caprichosas diria um sofredor. Eu sou sofredor, mas relativizo-me quando vejo o Telejornal, pasquim das misérias alheias de quem sofre com misérias mais que carnais, virais!. As misérias abundam e pululam, logo sou o menos miserável dos miseráveis. Sou, por assim dizer, a fronteira entre a Sorte e o Azar. Sou, ora, a confusão. O dilema do jogo da vida. Médio-pouco-e-muito ao mesmo tempo. Confundindo os superiores.
Para aliviar as mentes, eu e o Agostinho juntámos os pontos com números por ordem crescente e nasceu uma cabra a saltar um monte; descobrimos a mochila perdida da Becas, uma coelha a picnicar com outros dois contentes junto ao rio; descobrimos seis lebres escondidas nas medas e desenhámos uma maçã, uma banana e três copos de sumo sobre uma toalha branca. Pena foi não termos os lápis de cor à mão, teríamos descoberto os animais sobre a árvore. Mas pareceu-me haver um mocho. Fica a dúvida.
Recaminhei com o vento de meiguice. Agradeci a palmada e tomei-me de casa; que o homem quer descanso mesmo quando o sangue ferve por desejos tolos, saudades de carnes meigas que sabem tocar ou palavras doces de quem sabe o que ele quer ouvir.

... assim.

Abdel.

1 comentário:

vidalinic disse...

Ah, canudo! Haverá sempre os agostinhos deste mundo!