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"They always have flowers. Every dog always has flowers, fresh, all in
neat little clusters on each grave. It's enough to make you cry."
neat little clusters on each grave. It's enough to make you cry."
Bukowski
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“... a verdade é que nada disso teria importância, não fora a tamanha satisfação que sentira ao lamber as mãos dos outros homens.”, latiu ela. Rebola, como rebola o sol sobre ela, e aquecida agradece o bendito alimento que recebe sem praticamente o pedir. A verdade: ser cão merece um aplauso; mas não serei optimista ao ponto de pensar que ser cão – cadela no caso – será a melhor condição de um ser vivo – seja ser vivo toda aquela substancia que um dia ganhou vida.
“Este é o meu primeiro enterro. Tenho 19 anos.” Testemunho.
Pontapeei a pedra solta na minha frente e nem um ganido suou. Nada suou daquela pedra solta: era uma pedra de calçada, branca e bela como um dente velho, cinzelada algures no meio do tempo e - imagino que? - nem um ganido ou latido suou quando aquela pedra de calçada foi cinzelada. A verdade: as pedras não são um ser vivo. Ora, poderei pensar, agora que acabei de te pontapear – e acabei de falar com uma pedra, reparem! – a melhor condição de um ser vivo é ultimamente ter a sorte de algures num tempo futuro se tornar uma pedra de calçada. Com azar te soltarás, penso, com muito azar serás pontapeada, continuo, mas melhor e mais perfeito, com azar voltarás para o mesmo buraco onde viveste – como quem diz – todos aqueles anos, imóvel ao lado de uma quantidade enorme de pedras caladas e cinzeladas com a mesma arte: não possuem qualquer diferença entre si, são seres perfeitos e iguais, moldados na perfeição do azar, mas terrivelmente aborrecidos. Ser pedra de calçada é ser pobre e miseravelmente insignificante – para além dos prazeres da ignorância da dor. Ser cão é ter apenas uma possibilidade de procurar prazeres com a satisfação da dor; note-se que pontapeado o cão gane, mas com o tempo o som desaparece com o hábito. “A pedra habituou-se”, penso. Daqui chego ao cemitério de cães: um cão enterrado transforma-se em terra, mais tarde em pedra, depois, e se forem muitos, numa pedreira.
“Este é o meu primeiro enterro. Tenho 19 anos.” Testemunho.
Pontapeei a pedra solta na minha frente e nem um ganido suou. Nada suou daquela pedra solta: era uma pedra de calçada, branca e bela como um dente velho, cinzelada algures no meio do tempo e - imagino que? - nem um ganido ou latido suou quando aquela pedra de calçada foi cinzelada. A verdade: as pedras não são um ser vivo. Ora, poderei pensar, agora que acabei de te pontapear – e acabei de falar com uma pedra, reparem! – a melhor condição de um ser vivo é ultimamente ter a sorte de algures num tempo futuro se tornar uma pedra de calçada. Com azar te soltarás, penso, com muito azar serás pontapeada, continuo, mas melhor e mais perfeito, com azar voltarás para o mesmo buraco onde viveste – como quem diz – todos aqueles anos, imóvel ao lado de uma quantidade enorme de pedras caladas e cinzeladas com a mesma arte: não possuem qualquer diferença entre si, são seres perfeitos e iguais, moldados na perfeição do azar, mas terrivelmente aborrecidos. Ser pedra de calçada é ser pobre e miseravelmente insignificante – para além dos prazeres da ignorância da dor. Ser cão é ter apenas uma possibilidade de procurar prazeres com a satisfação da dor; note-se que pontapeado o cão gane, mas com o tempo o som desaparece com o hábito. “A pedra habituou-se”, penso. Daqui chego ao cemitério de cães: um cão enterrado transforma-se em terra, mais tarde em pedra, depois, e se forem muitos, numa pedreira.
1 comentário:
pois.
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