- Na escola era O Estranho, o que não era de todo estranho, lembras?, disse-me ele, já homem, neste breve encontro junto a uma rotunda florida de papoilas; ele inaugurava, eu apreciava. A gravata era laranja, subtileza da Providência.
Brincava sempre sozinho porque as suas brincadeiras não eram comuns. Comprava bombas na papelaria mais próxima e estourava-as nos caixotes do lixo da escola; tinha na mochila uma flobert que deitava por terra, com uma eficácia mortífera, todos os frutos suspensos no diospireiro junto ao campo da bola.
O Nino – chamava-se em surdina! - era alto, magro e caminhava direito, com o olhar constantemente num alvo imaginário: nunca o perdia de vista. Um dia enchi-me de coragem e com meio croissant de chocolate nos dedos, outro meio no intervalo dos dentes, perguntei o que ele queria ser quando fosse grande. A minha pergunta tinha uma razão: as pessoas, ao longo do tempo, domesticam os gostos e aperfeiçoam as ferramentas. Este pensamento não o formulara na altura, obviamente – era estúpido demais para raciocinar com lógica. Seria o instinto básico de auto-preservação: queria precaver-me, mudaria de país se o calibre mo recomenda-se.
- Chefe de guerrilha!
E os olhos do João brilhavam como berlindes. Achei meio interessante – não é um brasileirismo: meio porque ser Chefe é sempre bom, apenas não sabia o significado da outra palavra, Guerrilha.
Mantive-me distante, mas atento à evolução do João. Não queria levar com um chumbo perdido. Sempre que nos cruzávamos cumprimentava-o. Queria manter aberta a possibilidade de usar a sua pontaria ao meu serviço se algum rufia da escola me incomodasse mais que o normal.
Hoje, o João Vieira é um político, que mais que diligente, é ameaçador. Todos na cidade se lembram da sua apetência para o fogo
abdel.
2 comentários:
Este blogue está sempre na mesma!!!!!
Como a lesma!!!!!
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