22 junho 2006

PVMC ou simplesmente Puta Vida Merda Cagalhões



Questionais-vos, vós, Celsiberos aculturados pela proliferação do cd e dvd, que figura grotesca será esta acima plantada. Apesar do formato da foto aparentar ser decoração de lápide não é de um óbito que vos venho falar. Para pena de muitos.
Ora, esta panaceia visual é, nem mais nem menos, um dos maiores fenómenos cotonianos que, chegado o Verão, assombram aldeias e vilas de Norte a Sul, Este a Oeste e, quiçá, de Noroeste a Sudeste deste País. Há quem relate aparições de Nordeste a Sudoeste, mas não há provas sustentadas.
Não há escaparate de K7 de bomba de gasolina ou café de berma de estrada que não ostente orgulhosamente os últimos hits deste cançonetista que já nada tem a provar e, aparentemente, a perder.
Nel Monteiro, meus caros, atingiu o pico e o sublime com o seu último trabalho, talvez superior ao Nel Alive em França ou mesmo ao carismático Azar na Praia.
"Puta, Vida, Merda, Cagalhões". Leram bem. Assim se intitula a última, digamos, "obra" do Grande Nel. Neste, Nel desbruça-se e esmifra o caspismo nacional, largando pérolas de sabedoria intervencionista, apenas comparáveis a um qualquer Palma, Godinho ou Mário Branco. Isso mesmo. Nel traz a música pimba para um outro patamar. Cansado da obliteração e do achincalhamento a que a música pimba foi sendo votada, este ilustre não faz por menos e escavaca tudo e todos a cada quadra deste portento musical.
Questiono-me como será o clip deste novo intervencionista que, qual girino, renasce dos "cagalhões e da urina quente". Por enquanto contento-me com a audição da "obra".
Eis, pois, a poia fumegante.

3 comentários:

Abdel Sesar Im disse...

Já Henry Miller sofreu a ostracisação literária devido à pretensa sexualidade explicita na sua obra maior. Em "Trópico de Cancer" a trampa é o fim em si mesmo, mas carrega uma busca de algo luminoso, continuada e sofrida. A busca é, enfim, um caminho trancendente que se destinará a mostrar a trampa que somos, a destruir-nos cada vez mais, a mostrar a nossa "inumanidade". "Hoje orgulho-me de dizer que sou inumano, que não pertenço a homens nem governos (...)", termina o autor. É o uso radical do cepticismo. Publicado em 1945, a obre foi proibida nos US, e libertada pela Beat Generation.
Este Nel soltou a verborreia dura que nos entope os dias, que queremos gritar ao vivo, depois de gritada em casa, incessantemente, até à loucura. Mas o pobre, esse ser estagnado, preso a rolamentos de esfera que não são seus, roda sobre o eixo vacilante que não controla. É este pantano putrido que o Movimento nel-monteirista quer acordar. Sinto, apenas, que será outro grito, mais um. Mas deixem o homem gritar. E gritem com ele, a alto som, em colunas de veiculo estrada a fora. Criemos a Mud Generation.

todonu disse...

Kerouac iria ficar extasiado com Nel. O grito exasperado vindo da alma deste personagem é o eco do que todos temos em nós. A busca de uma existência sem grilhetas, sem a mão invisível que a todos amarra e a ninguém dá, é o mote do cançonetista. É a revolta em estado puro. Tal como Nel, personagem interpretada por Jodie Foster no filme com o mesmo nome, Monteiro procura o seu lugar e questiona o lugar dos outros e sua atitude perante o mundo. Com uma linguagem "Neliana", Monteiro cospe o fogo que lhe queima as vísceras, utilizando um código sonoro diminuto e reduzido ao estritamente necessário. Como Abdel, digo: façamos ouvir este Ghandi de Rezende! De preferêcia gritando o refrão a gritos estridentes até perder a voz. (Eu desejo o mesmo ao Nel).

vidalinic disse...

Nel!!!

O homem que reclama para si mesmo o título de rei do pimba excede-se!

Mais do que o céu, ele almeja o esgoto divino, qual Caronte da cultura. Ó causa nobre!!

(Por cada cd comprado o SMAS de Santa Marta de Penaguião recebe 1 aéreo para aquisição de filtros e mangueiras para limpeza de dejectos)