27 fevereiro 2007

Carta a um amigo.


E acontece que um homem normal
foi tomado por uma nuvem adversa.
Que fazer?
Abrir o guarda-chuva.



Querido Todonu:

Nestes últimos ando repassado de tumultos. Talvez esta epístola não seja a melhor granja para florir os meus privados, mas se a eles me permito creia que o faço porque em vós confio. Pois, é a vós, amigo, sábio e raro, que confio esta epístola em lacrimosa. Pois foi em lágrimas que me vi em pastel, desenhado, e desconhecido; não me reconheci no esboço que me fizestes. Que Gryllus me surge em olhos, que Circe fora? Porque o espelhado que surge é-me aos olhos hediondo.
Ora, sentia que algo andava no ar; que algo meu não passava do grafismo para a sobriedade da imagem; era a graça na austeridade.
Porque não fui traçado por linhas coloridas? Porque não fui traçado por formas esbeltas? Porque não fui traçado por superficies singelas?
Na verdade, pondo-me na pele do artista, reconheço as variações infinitas. E de resto digo: cada um pode distrair-se como bem entende, mas com o sono dos outros? Mas injusto seria privar o homem das belas artes. E quem por elas passa pode muito bem tirar proveito, e talvez sorrir, senão gargalhar. Mas, alguém rira sobre o meu retrato? Deus queira que não, ou morra já aqui.

Creia o meu amigo que me criticou de forma deveras mordaz. Depois de a desenhar, soube - veja, confio no vosso estudo e alcance de deambulações - que a outros coube o direito de a julgar. Pois bem: a fórmula segue a naturalidade: se no principio estava a pena que o desenhava, se então entremeava... vou comer um pão a palavra ultima roeu em mim um desejo de centeio com fêvera por isso pergunto se deva ou não maionesar a dita ou se a coma fresca e simples directa da grelha não interessa como-a assim mesmo já vim... a ideia, e a ideia é o artista, no fim então estará o desenhado. O seu rosto expele uma linguagem, e algumas são negros palavrões. O que me riscas, diria eu, será uma sátira?

A razão por que revesti esta epístola em tão fidalgo estilo é o jeito proverbial: " Se ninguém te louva, louva-te a ti próprio". Pois bem, revelei-me segundo o rosto e o olhar. As variações: truncadas e mal avaliadas algumas. Deixo de lado as metamorfoses sociais dos sorrisos. E como em Nestor, ora, como em mim, o tempo altera mudanças feitas e engrena outras que tais. Nesta pena estou congelado. Vê-de! Congelaste-me o rosto? Olha-me agora.
Não me importo que a Circe me ronde. Mas, e já Erasmo dizia, criticar será morder ou alertar os homens? Pois bem, que me alertas, ó artista? Demais, agora que penso, sou eu quem faz o alerta, e meu amigo me perdoará: vós tendes um traço por demais nefasto; como desenhador vales peva.


Do seu querido e sempre amigo,

Abdel.

3 comentários:

todonu disse...

Caro Abdel, permita-me uma, ou duas mesmo, notas:

1ª - É UMA MÁQUINA DE FAZER RETRATOS-ROBOT!!!!!
Daí tão gélida e pálida conjugação de traços. Talvez nem fuja assim tanto do real, daí o incomodar deveras. Sei que faltam as patilhas (não havia) e as polainas (só dá para fazer rostos). Quanto à cor, bem sei que gostaria que o batom sobressaisse e a sombra dos olhos. Não é possível infelizmente.

2ª - A.C.A.M. - Associação Cristã de Acolhimento Milenium

todonu disse...

Ahhh... e esse início de carta! Muito boiola... muuuuito boiola...

Abdel Sesar Im disse...

Ora vamos lá ver!

Boiola não, "literáriamente-florida-com-exageros-que-deveriam-ser escusados-por-um-rapaz-que-ja-tem-idade-para-ter-juizo".

Agora, isso de ser uma "UMA MÁQUINA DE FAZER RETRATOS-ROBOT" não passa de uma boa desculpa quando n se sabe fazer melhor. E depois, eu sei que é uma maquina de fazer retratos, mas pareceu-me melhor escrever a carta.
...
enfim, quando n se sabe mais... e isto dá pros dois. Ora pega.

Abdel.